O avanço das discussões sobre o valor do trabalho invisível vem transformando a maneira como se interpreta a economia de um país. Esse conjunto de atividades, historicamente associado à manutenção da vida e do bem-estar coletivo, sempre desempenhou papel essencial, embora pouco reconhecido nas métricas econômicas tradicionais. Sua contribuição vai além do apoio às famílias e comunidades, pois influencia diretamente a produtividade, a força de trabalho e o desenvolvimento social. Dar visibilidade a essa dimensão é um passo importante para redefinir prioridades e construir políticas públicas mais justas e inclusivas.
O reconhecimento desse tipo de atividade demanda uma mudança na forma como são mensurados os indicadores nacionais. Tradicionalmente, a economia tem como base apenas as transações mercantis, desconsiderando práticas não remuneradas que sustentam o funcionamento do sistema produtivo. Ao incluir novas métricas capazes de captar esse valor, o país se aproxima de um retrato mais fiel da realidade, permitindo que dados mais completos orientem decisões estratégicas de desenvolvimento econômico e social.
Essa mudança de perspectiva também está ligada à promoção da igualdade de gênero, pois, historicamente, essas tarefas recaem de forma desproporcional sobre as mulheres. O acúmulo de responsabilidades, que combina trabalho remunerado e atividades domésticas ou comunitárias, limita o tempo disponível para qualificação profissional, ascensão na carreira e participação em espaços de decisão. Ao mensurar oficialmente esse trabalho, abre-se caminho para políticas que favoreçam a redistribuição mais equilibrada dessas responsabilidades, beneficiando toda a sociedade.
O impacto dessa contabilização vai além dos números e reflete diretamente na vida cotidiana. Com dados concretos, torna-se possível implementar programas voltados à oferta de serviços públicos de apoio, como creches, centros de atendimento a idosos e iniciativas de assistência a pessoas em situação de dependência. Essas medidas não apenas aliviam a carga de trabalho das famílias, como também criam novos postos de emprego e movimentam setores que contribuem para o crescimento econômico.
Experiências internacionais mostram que países que adotaram metodologias específicas para mensurar o valor de atividades não remuneradas conseguiram avanços significativos em termos de inclusão social e formulação de políticas eficientes. Essa prática tem o potencial de alterar a percepção pública sobre o que constitui trabalho produtivo, reduzindo desigualdades e fortalecendo a rede de proteção social. Adotar tais medidas coloca o Brasil em sintonia com tendências globais e metas de desenvolvimento sustentável.
Além do reconhecimento social, a medição desse trabalho fortalece o planejamento governamental. A criação de métricas periódicas e confiáveis permite acompanhar mudanças ao longo do tempo e avaliar o impacto de políticas implementadas. Também possibilita uma visão mais ampla sobre a real disponibilidade de mão de obra e sobre como o tempo é distribuído entre diferentes grupos populacionais, o que é crucial para pensar o futuro do mercado de trabalho.
No campo econômico, valorizar atividades não remuneradas revela um potencial expressivo de contribuição para o Produto Interno Bruto ampliado, mesmo que de forma indireta. Ao compreender que tarefas como cuidado de dependentes, manutenção do lar e serviços comunitários sustentam a capacidade produtiva de outros setores, é possível estabelecer estratégias mais robustas para fomentar o crescimento. Esse olhar integrado reforça a importância de não separar economia e bem-estar como esferas distintas.
Ao tornar visível o que por muito tempo esteve invisível, o Brasil pode dar um passo decisivo rumo a uma economia mais inclusiva e justa. A valorização dessas atividades não apenas corrige uma distorção histórica, mas também fortalece as bases para um desenvolvimento sustentável, que reconhece a interdependência entre produção, cuidado e qualidade de vida. Esse novo paradigma tem potencial para transformar não apenas estatísticas, mas também realidades, abrindo espaço para um futuro mais equilibrado e solidário.
Autor: Alan Nacamoto