Em conversa com Bruno Perini no podcast Você mais Rico, o ex-ministro da economia, Paulo Guedes compartilhou o que pensa sobre o Bitcoin, o potencial das moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) e o papel que a tecnologia desempenha na evolução do sistema monetário global.
As reflexões de Guedes abrangem desde a natureza cíclica e especulativa dos investimentos em criptomoedas até a necessidade de uma base sólida de confiança e tecnologia para o desenvolvimento futuro de moedas digitais.
Falando sobre Bitcoin, Guedes primeiro discutiu a teoria da reflexividade nos mercados financeiros, observando como o otimismo dos investidores pode levar a aumentos de preço que, por sua vez, validam o otimismo inicial.
Essa dinâmica, de acordo com ex-ministro, pode resultar em movimentos de mercado exagerados e a formação de bolhas. No caso do Bitcoin, ele aponta que a limitação da oferta da moeda contribui para sua atratividade, mas também leva a ciclos de elevação e queda nos preços baseados na percepção de sua utilidade e valor.
“Não é porque se todos estão otimistas os mercados sobem e se os mercados sobem eles ratificam aquele otimismo então é verdade mas também para que isso aconteça tem que ter algum fundamento porque ninguém fica otimista por ficar né, tem que ter alguma coisa boa acontecendo, mas isso explica uma boa parte dos movimentos excessivos das bolhas porque às vezes tem uma coisa boa acontecendo, mas você exagera naquela direção por isso é que tem esses grandes ciclos, por exemplo, Bitcoin.”
Bitcoin não é moeda, diz Paulo Guedes
Paulo Guedes questionou se o Bitcoin poderia verdadeiramente ser considerado a “moeda do futuro”, dada sua dificuldade em ser usado para transações diárias, como comprar um sanduíche no McDonald’s.
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Ele comparou o Bitcoin a um quadro de Picasso, sugerindo que, embora possa ser considerado uma reserva de valor, sua utilidade como meio de pagamento é limitada. Essa limitação, segundo ele, é um desafio para a aceitação generalizada do Bitcoin como uma verdadeira moeda.
“Você consegue comprar um sanduíche [com bitcoin]? Vai ali no McDonald’s e compra um sanduíche com Bitcoin. Então não é moeda, você tá colecionando um quadro de Picasso esperando que isso vire alguma coisa escassa no futuro, aí o negócio cai”, disse.
Bitcoin pode ser reserva de valor, mas está longe de ser moeda
Apesar de criticar o Bitcoin como meio de pagamento, Guedes elogiou uma das principais características do Bitcoin, sua oferta limitada, que teoricamente deveria valorizá-lo à medida que a demanda aumenta.
Segundo ele, a limitação da oferta do Bitcoin é uma característica ausente nas moedas fiduciárias desde a desvinculação do padrão ouro. Guedes também destacou o sucesso das economias baseadas em moeda fiduciária desde a transição do padrão ouro, reconhecendo o enriquecimento e o progresso que acompanharam esse movimento.
Contudo, Guedes levantou preocupações sobre o desfecho incerto desse “experimento”, sugerindo que o futuro pode reservar tanto resultados positivos quanto negativos, dependendo de como ocorrerá a transição para novos sistemas monetários.
Paulo Guedes não vê a tecnologia por si só como suficiente para definir o valor de uma moeda.
Ele usa o exemplo do Bitcoin para argumentar que, apesar de sua potencial reserva de valor, semelhante à de um quadro de Picasso pela sua escassez, o Bitcoin ainda enfrenta desafios para se estabelecer como meio de pagamento universalmente aceito e unidade de conta.
“O Bitcoin tem essa virtude [reserva de valor], uma das três virtudes da moeda. Só que não tem outra que é ser meio de pagamento aceito universalmente. Ele tá longe disso, tá muito longe ainda, mas muito longe.”
“Ninguém vai fazer conta com aquilo, entendeu? Como é que eu vou poupar num banco, 18 bitcoins, como é que eu vou, ‘quanto é que custa essa torre de iluminação que nós estamos usando, esse microfone, 18 Bitcoins, 20 Bitcoins, entendeu?’ Não dá, não é unidade de conta, não é meio de pagamento aceito. Então tá muito distante.”
O futuro do dinheiro
Falando sobre o dinheiro do futuro, Guedes prevê uma fusão entre novas tecnologias, como a blockchain, e a ‘confiabilidade e estabilidade oferecidas pelos governos‘.
Ele sugere que as moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs) representam esse futuro, combinando as vantagens tecnológicas do Bitcoin com a ‘segurança‘ e a ‘transparência‘ garantidas pelo envolvimento estatal.
Segundo Guedes, o caminho para uma moeda digital sob a égide de um banco central é “óbvio”, fornecendo todas as transações em um histórico imutável e reduzindo drasticamente as possibilidades de falsificação.
Guedes, no entanto, argumenta que a contínua tendência de altos gastos governamentais pode comprometer a adoção de moedas digitais, devido à falta de confiança no valor sustentável dessas moedas.
Ele também acredita que essas novas formas de dinheiro precisariam ser ancoradas em algo confiável, fora do alcance do governo, para garantir sua valorização e aceitação como reserva de valor e meio de pagamento.
Ainda assim, Guedes reconhece o papel potencialmente transformador da tecnologia blockchain.
Ele sugere que uma moeda digital, apoiada por uma garantia como o Bitcoin, poderia eventualmente se tornar uma “moeda supranacional”, aceita globalmente, contornando os problemas associados ao controle governamental sobre as moedas tradicionais.
Por fim, o ex-ministro destacou a importância da tecnologia em fornecer transparência e rastreabilidade nas transações financeiras, o que poderia reduzir atividades ilícitas. No entanto, ele adverte que a transição para tal sistema será gradual, dependendo da adoção e adaptação dos usuários aos novos usos e costumes.